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DR. VICENTE ODONE FILHO EM ENTREVISTA

Qual a principal diferença entre tratar um adulto e uma criança com câncer?

Além dos tipos mais prevalentes de câncer adulto e pediátrico serem muito diferentes, com relação ao câncer de adulto uma série de medidas profiláticas pode ser preconizada. Já em crianças, a única medida de antecipação realmente válida é o cuidado pediátrico rotineiro ao qual as crianças sempre são submetidas. A apresentação do câncer em crianças normalmente mimetiza situações pediátricas corriqueiras, raramente surgindo de forma a expressar de maneira clara um diagnóstico. Em apenas 4% dos casos pediátricos são encontrados fatores claros predisponentes. Todavia, apesar das crianças via de regra não serem beneficiadas com orientações profiláticas, é importante que essas comecem já em tenra idade. Com isso, não apenas podemos evitar que os adultos venham a apresentar problemas mais precocemente, como o hábito da boa orientação estará estabelecido desde o princípio da vida. Finalmente, é importante lembrar que tratar de crianças com câncer tem outro diferencial fundamental: desde nossos primeiros dias, sabemos que nossos filhos aqui permanecerão, enquanto nós, mais velhos, iremos embora. A possibilidade de perder um ente querido é sempre muito dolorosa. Mas toda vez que essa ordem natural dos fatos é alterada a dor é muito maior. Somente podemos imaginá-la e tentar compreendê-la.

Qual o panorama do câncer infantil no Brasil e no mundo?

O tratamento do câncer infantil é uma grande história de sucesso. Em sua imensa maioria, as formas de câncer infantil são disseminadas, isto é, acometem o organismo como um todo. Isso explica porque essa história de êxito começou junto com a da moderna era da quimioterapia, marcada pelas primeiras publicações do Dr. Farber, em 1948, relatando as primeiras remissões, os primeiros controles de leucemias – transitórios a bem da verdade, mas controles – com a droga aminopterina, análoga ao metotrexate, até hoje ainda tão importante. Passamos de uma perspectiva quase que inexoravelmente fatal a possibilidades que superam os 70% e mais, com uma qualidade de vida que muitas vezes torna os sobreviventes de câncer infantil indistinguíveis daqueles que não passaram por essas vicissitudes. O nosso país detém todo o domínio técnico para o tratamento do câncer e, em muitas áreas, situa-se na vanguarda das pesquisas. Nosso grande desafio não é de ordem qualitativa, e sim quantitativa, isto é, tornar acessível a toda nossa população essas grandes conquistas.

Ao descobrir que um filho tem câncer, o que os pais devem fazer?

A mais importante das ações é desvencilhar-se do pensamento fatalista, do injustificável pensamento fatalista que a expressão câncer ainda tem, e entender que conhecer todas as suas nuances, entender todas as suas perspectivas, é a melhor maneira de enfrentá-lo. Convencer-se de que, sempre, é uma luta que vale a pena ser lutada.

Baseado em seus anos de profissão, como definiria a força de vontade que as crianças com cancer têm para se curar?

Definiria como uma grande lição de vida. Uma lição generosa que, algumas vezes, mesmo não resultando em benefícios pessoais, deixa ensinamentos que vão auxiliar os tantos que virão depois. Assim como os que vieram antes auxiliam os que agora batalham. É uma fantástica herança que, por mais que nos esforcemos, não conseguiremos nem remotamente cotejar.

Existem fatores de risco para câncer infantil?

Sem dúvidas há situações de risco para o câncer infantil. As crianças com síndrome de Down são mais propensas a desenvolvê-lo. Existem também as raras síndromes de ocorrência familiar. Hábitos específicos podem ser associados a câncer infantil, mas são situações minoritárias. Em apenas 4% dos casos somos capazes de reconhecê-las. O melhor é sempre lembrar que o câncer infantil, em sua apresentação, via de regra mimetiza situações pediátricas corriqueiras. Daí ser a atenção pediátrica regular o melhor elemento para, se não prevení-lo, pelo menos detectá-lo precocemente.

Que dicas o senhor deixaria aqui para pais de crianças com câncer?

Não ter, sobretudo, medo de reconhecê-lo. O diagnóstico precoce é a melhor maneira de enfrentar. E lembrar que, por habitualmente mimetizar situações pediátricas corriqueiras em sua apresentação, problemas que não sejam adequadamente explicados, que sejam progressivos, devem levar em consideração a possibilidade de serem devidos a um câncer. E não ter, jamais, medo de enfrentar essa possibilidade.


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